Historia do ballet clássico

A História do Ballet Clássico

O ballet clássico é o desenvolvimento e a transformação dessa arte primitiva, que baseava-se no instinto, param uma dança formada de passos diferentes, de ligações de gestos e de figuras previamente elaboradas para um ou mais participantes.


- Na Itália, os primórdios
A história do ballet começou há 500 anos, na Itália. Em seus ricos salões, os nobres italianos divertiam seus ilustres visitantes com espetáculos de poesia, música, mímica e dança. Essas luxuosas e demoradas apresentações (no mínimo 3 horas) contavam com ricos e pesados trajes e cenários feitos por badalados pintores, como Leonardo da Vinci.
A primeira apresentação de ballet que se tem notícia data de 1489, comemorando o casamento do Duque de Milão Galeazzo de Sforza com Isabel de Aragon, organizada por Bergonzio di Botta.
Estas apresentações ocorridas na corte italiana possuíam delicados movimentos
de cabeça, braços, tronco, pernas e pés. Para a existência de bons bailarinos, surgiram os primeiros professores de dança, que viajavam por vários lugares ensinando para ocasiões como casamentos, alianças políticas, vitórias de guerra, etc.
O ballet chega à França
Quando a italiana Catarina de Medicis casou com Henrique II, se tornou rainha da França e introduziu com grande sucesso o ballet na corte francesa. O mais famoso espetáculo apresentado lá foi o Ballet Cômico da Rainha, ou do Reino, produzido por Balthazar Beaujoyeux em comemoração ao casamento da irmã de Catarina. Essa extravagante apresentação durou mais de cinco horas, contando com carros alegóricos, muito luxo e mais de 10 mil espectadores. O Ballet Cômico da Rainha foi uma grande influência na formação de conjuntos de dança de todo o mundo, além de invejar todas as casas nobres européias. Como diz o nome, o tema era para fazer rir, assim como todas as outras apresentações francesas da época.

Assim, o ballet ia se tornando cada vez mais popular, alcançando seu auge na época de Luís XIV. Luís XIV – Revolução. Luís XIV, rei da França com 5 anos de idade, tornou-se um grande bailarino. Desde os seus 12 anos apresentava-se em ballets da corte, e tamanho foi o seu sucesso no "Ballet da Noite" que ganhou o título de Rei Sol. Foi Luís XIV que fundou, em 1661, a Academia Real de Ballet e a Academia Real de Música, ambas dirigidas por Jean-Baptiste Lully, que criaria vários ballets. Outra pessoa que teve bastante importância nessas academias foi Charles Louis Beauchamp, dito "inventor" das cinco posições, que se tornaram a base de todo o aprendizado acadêmico do ballet clássico. Porém, apesar de todo esse acesso ao ballet, os dançarinos eram só homens, o que era um atraso na evolução daquelas. Mas, logo após a morte de Luís XIV, essa situação mudaria, tornando-se o ballet não só uma arte, mas uma profissão. O ballet evolui - Foi no fim do século XVII que a mulher ganhou de vez o seu espaço no ballet clássico. O primeiro registro de uma contratação de mulheres para dançar junto com homens foi no ballet "Le Triomphe de l'amour", em 1681. Junto com isso veio a profissionalização da dança. Os espetáculos foram transferidos de salões para teatros, e logo as bailarinas começaram a fazer sucesso, apesar de serem dificultadas em seus movimentos no princípio devido ao pesado figurino. Uma das que mais lutaram pela mudança de figurinos foi La Camargo (Marie Anne de Cupis de Camargo), que escandalizou a todos levantando a saia até a metade da panturrilha e abolindo o salto dos sapatos, mostrando assim melhor os passos que executava. Aliás, foi La Camargo quem criou os passos entrechat quatre, jeté e pas de basque. Sua rival, Marie Sallé, aboliu o penteado extravagante que as bailarinas usavam, mas lançou uma moda que não pegou: ela vestia uma espécie de túnica, abolindo o corpinho justo, que até hoje as bailarinas usam. A primeira obra sobre a técnica do ballet também surgiu nessa época. Jean-Georges Noverre lançou o livro Lettres sur la danse et sur les ballets, considerada até hoje a mais importante obra do gênero. Foi Noverre também quem criou o Ballet de Ação. Ele percebeu que o ballet deveria exprimir mais do que simples movimentos, deveria exprimir um significado, narrar uma história. Assim, foram abolidos os cantos e a declamação, e tudo passou a ser "contado" por passos de dança. Noverre também trouxe figurinos leves e a ligação entre as danças, formando uma história.

Porém, o ballet passou por um período negro: a Revolução Francesa. A época era caracterizada pela ascensão da burguesia e pela decadência da nobreza, que era quem financiava e apoiava a dança da época. Assim, devido à censura burguesa, várias peças com referências à mortandade das guilhotinas (que executavam nobres reis) foram proibidas. Foram fechadas também as Academias Reais de Dança e de Música, que só seriam reabertas na Restauração. Apesar disso, logo viria o Romantismo, que daria um novo impulso ao ballet.

O Romantismo - O Romantismo apareceu no século XIX e transformou não só o ballet como todas as artes. Nele, aparecem figuras exóticas e etéreas, como ninfas e fadas trajando longos vestidos, hoje chamados tutus românticos. Ao mesmo tempo, essas figuras imaginárias dançam com príncipes e camponeses. Nessa época, surgiram grandes ballets como Giselle e La Sylphide, que traduzem exatamente o Romantismo daquela época. La Sylphide mostra imagens sobrenaturais, fadas e mitos misteriosos. Nesse ballet surgiu uma grande evolução na dança clássica: as pontas. Marie Taglioni, que representava o papel principal, foi quem inaugurou este importante instrumento. Aliás, o ballet La Sylphide foi feito para ela por seu pai, Filippo Taglioni. Já Giselle é considerado até hoje o maior teste para uma bailarina, pois além da técnica, exige qualidades emotivas de seus intérpretes. Nesse ballet, a consagrada foi Carlota Grisi. O Romantismo também mostrou uma nova maneira de estruturar o espetáculo: a bailarina era o elemento principal, sendo que o grupo como um todo tinha menor importância. Porém, após algum tempo, o Romantismo empobreceu-se, e isso causou o declínio do ballet na Europa. Porém, a leste dali, mais exatamente na Rússia, a evolução era grande, e as bailarinas e bailarinos russos estavam chegando para firmarem seu país como uma grande potência da dança.

Na Rússia. Com a decadência do Romantismo e conseqüentemente do ballet na Europa, o ballet russo começou a ter um enorme destaque na França, Itália e outros países. Foram criadas as companhias do Ballet Imperial em Moscou e São Petersburgo (hoje Leningrado). Lá, vários bailarinos e coreógrafos franceses foram admitidos, e as companhias foram reconhecidas por suas soberbas apresentações. Um dos grandes responsáveis por esse desenvolvimento foi Marius Petipa, bailarino e coreógrafo francês. Petipa havia ido à Rússia em 1847 somente para um passeio rápido, mas tornou-se coreógrafo chefe e nunca voltou à França. Graças a Petipa, o centro mundial de dança transferiu-se para São Petersburgo. Foi ele também quem criou importantes ballets, como O Lago dos Cisnes, Quebra-Nozes e A Bela Adormecida. Nos ballets de Petipa, sempre havia danças importantes para o corpo de baile, variações para os bailarinos principais e um grande pas-de-deux para a primeira bailarina e seu partner.

Na Rússia, o ballet absorveu o que havia de melhor no ballet italiano, o allegro (saltos, vivacidade), e o que havia de melhor no ballet francês, o adágio (equilíbrio, graça, leveza). Além disso, o ballet russo também absorvia um pouco da sua cultura, ou seja, a dança a caráter e folclórica. Na Rússia, também descobriram-se grandes coreógrafos e bailarinos, como Petipa, Cecchetti, Anna Pavlova, Nijinski, Fokine, etc. Também descobriu-se a beleza da música de Tchaikovsky, que estava presente em vários ballets de Petipa. Porém, essa grande fase não duraria para sempre. Logo, Petipa e companhia foram considerados ultrapassados e o ballet entrou em decadências. Porém, logo chegaria um grande nome que novamente acenderia a chama da dança. Diaghilev - Serge Diaghilev veio revolucionar o ballet, não só o russo como também o francês, o italiano, enfim, o de todo o mundo. O russo era um editor de uma revista de artes, e estava cheio de novas idéias para aplicar na dança. Porém, Diaghilev achava que São Petersburgo não estava preparado para tais mudanças. O editor então escolheu Paris para aplicar sua arte. Primeiramente, Diaghilev organizou uma exposição de pintores russos, que fez um grande sucesso. Depois promoveu os músicos russos, a ópera russa e finalmente, o ballet russo. Foi Diaghilev quem trouxe profissionais das Companhias Imperiais russas, como coreógrafos e bailarinos. Os franceses receberam muito bem os novos visitantes, e a crítica francesa fez os melhores comentários em relação ao ballet russo. Mas eles não agüentariam ficar mais tempo fora de casa. Em 1911, foram convidados para voltar ao seu país, formando assim uma companhia: "Ballet Russo". Assim, Diaghilev revelou ao mundo vários artistas russos. Não mostrou só o ballet, mas também a música, a pintura, etc. A Companhia "Ballet Russo" encantou platéias da Europa e da América, fragmentando-se depois por todo o mundo. Depois de Diaghilev - Após a morte de Diaghilev, em 1929, sua companhia Ballet Russo desfragmentou-se pelo mundo todo, apesar dos esforços de seus sucessores. Porém, não podemos dizer que ela acabou, pois até hoje existem companhias que seguem fielmente o método russo de dançar. Uma delas foi a Companhia de Anna Pavlova, que excursionou até mesmo aqui no Brasil. As excursões das companhias russas foram muito importantes para estimular novos talentos. Um deles foi George Balanchine, que, apesar de russo, obteve seu maior êxito nos Estados Unidos. Balanchine foi o Diaghilev do Ocidente; assim como o mestre russo, ele revelou vários talentos e inaugurou uma nova maneira de dança.

Não foi só na América que aconteciam revoluções, na França, o espírito pelo ballet também estava renascendo mesmo depois da morte de Diaghilev. Também acontecia o mesmo na Inglaterra, o importante Royal Ballet estava despontando para o sucesso com a incrível bailarina Margot Fonteyn. Mesmo após a morte de grandes mestres russos, o ballet crescia e cresce cada vez mais. Qual será o próximo passo, qual será o próximo mestre, a próxima evolução? Ninguém pode dizer. O ballet moderno também já conquistou espaço no mundo. Estaria o ballet clássico ameaçado pelas modernidades? Não, é claro que não. Grandes ballets do passado ainda estão em cartaz, assim como a arte dos antigos mestres ainda é preservada.


E finalmente no Brasil – A primeira apresentação do ballet clássico foi realizada no Real Teatro de São João, no Rio de Janeiro, em 1813, um espetáculo dirigido por Lacombe, mas, só um século depois, com as apresentações das companhias russas de Diaghilev e de Pavlova, também no Rio de Janeiro, já no Teatro Municipal, o ballet brasileiro deslanchou definitivamente. Criou-se em 1927 a Escola de Dança do Teatro Municipal onde se formaram, entre outros, Berta Rosanova, Leda Yuqui, Madeleine Rosay e Carlos Leite. Mais tarde, outros nomes surgiram como Dalal Achcar e Márcia Haydée. Vaslav Veltchek dirigiu outra escola em São Paulo de onde saíram Alexander Yolas, Juliana Yanakieva, Raúl Severo, Aurélio Milloss, Tatiana Leskova, entre outros. Márcia Haydée e Ana Botafogo conseguiram grande expressão internacional. Entre as obras brasileiras de ballet que mais se destacaram, temos: Uirapuru, O Garatuja, O Descobrimento do Brasil, Maracatu de Chico Rei e Salamanca do Jarau.



Métodos de Ensino do Ballet Clássico

Existem vários programas de treinamento que os bailarinos podem seguir para tornarem-se bailarinos profissionais. Três dos maiores programas são o Cecchetti, o Russo Vaganova, e o da Royal Academy of Dance (RAD). Todos eles possuem diferentes níveis, do iniciante ao avançado, e todos possuem vantagens e desvantagens. A técnica Cecchetti foi desenvolvida a partir das aulas do grande mestre de ballet Enrico Cecchetti, através da Sociedade Cecchetti. É um plano de aula completo, elaborado para treinar bailarinos para o trabalho profissional. Uma ênfase notável, no método Cecchetti, é dada à fluência dos braços, na passagem de uma posição para outra, muito mais do que em qualquer outro método.
A técnica Russa Vaganova é derivada dos ensinamentos de Agripina Vaganova, a qual foi diretora artística do Ballet Kirov por muitos anos. No método Vaganova, os bailarinos dão maior atenção para as mãos, as quais, diferentemente do método Cecchetti, não fluem invisivelmente de uma posição para outra, é dado à ela uma maior energia e imponência, deixando-a para trás e trazendo-a de volta no último momento. No método Vaganova os exercícios de cada nível não são estabelecidos como no RAD. Cada professor coreografa sua própria aula, de acordo com as diretrizes dadas à eles, os alunos dançam essa aula em seus exames. O método RAD é muito comum. Se ajusta muito bem às escolas de dança em que os alunos têm, em média, não mais que uma aula por dia.

A Escola do American Ballet ensina o método Balanchine. Criado por George Balanchine, permite aos bailarinos dançarem as suas coreografias de maneira muito mais fácil do que os outros bailarinos. Nesse método as mãos são diferentemente trabalhadas de todos os outros métodos. Cada técnica também dá diferente nomenclatura para as direções do corpo, posições dos braços, arabeques e alguns dos passos. Pó exemplo, a posição dos braços conhecida como "bras bras" no método RAD é conhecida como "fifith em bas" no método Cecchetti e como "preparatória" no Vaganova. Contudo, as cinco posições básicas dos pés são as mesmas.